A Fórmula 1, esse circo sobre rodas onde a velocidade é medida em milissegundos e as rivalidades em declarações inflamadas, acaba de pegar fogo mais uma vez. Em meio a uma temporada de 2025 que já se anunciava épica – com a McLaren liderando o campeonato de construtores e Max Verstappen, da Red Bull, à espreita nas sombras – uma enxurrada de acusações explodiu no paddock. Laurent Mekies, o novo chefe da equipe Red Bull, lançou um ataque frontal contra a Federação Internacional de Automobilismo (FIA): regras “ocultas” criadas para favorecer a McLaren e destronar a equipe da fabricante de energéticos. Insatisfeito, Verstappen protestou veementemente contra uma controversa mudança de motor que, segundo ele, desequilibra a competição. A FIA, fiel à sua reputação de árbitro inflexível, reagiu imediatamente, exacerbando ainda mais as tensões em um esporte já explosivo.

Tudo começou na sombra do Grande Prêmio do Brasil, realizado em Interlagos no último fim de semana. Verstappen, tetracampeão mundial e eterno candidato ao título, se classificou em um desastroso décimo sexto lugar após um erro em sua volta lançada. A Red Bull, em uma jogada ousada, quebrou o regulamento do parque fechado – o sistema que bloqueia a configuração do carro após a classificação – e substituiu completamente o motor Honda do RB21 do holandês. Não se tratava de uma simples revisão: o motor de combustão interna, o turbocompressor, os módulos MGU-K e MGU-H, a bateria e a eletrônica de controle foram todos substituídos. Verstappen largou dos boxes, recebendo uma penalidade automática, mas protagonizou uma recuperação espetacular para terminar em terceiro, atrás de Lando Norris e Kimi Antonelli.
O problema não era a recuperação – Verstappen é excelente nisso – mas o custo desse “luxo”, como Mekies o chamou. O chefe da equipe McLaren, Andrea Stella, reagiu rapidamente. “Esses motores não apresentam degradação significativa com a quilometragem”, disse Stella após a corrida. “Trocá-lo nessas condições não parece lógico do ponto de vista da confiabilidade; parece mais uma manobra para melhorar o desempenho.” Mas o golpe final atingiu o coração financeiro da F1: o teto orçamentário de US$ 135 milhões por equipe para 2025. Segundo Stella, se a troca não foi devido a uma falha mecânica “válida” – como exigem os regulamentos da FIA – ela deve ser contabilizada como uma despesa adicional, potencialmente ultrapassando o limite. “Quero saber se este motor está dentro do limite de custo ou não”, insistiu o italiano, abrindo caminho para uma investigação oficial.

Mekies, ex-diretor executivo da FIA e atual chefe da Red Bull após a saída de Christian Horner, não poupou palavras. Em uma coletiva de imprensa posterior, o francês defendeu a decisão como uma “escolha de luxo”, dada a largada dos boxes, mas foi além. Ele acusou a FIA de aplicar “regras ocultas” que, segundo ele, favoreciam a McLaren. “A FIA tem sido inconsistente na aplicação dos regulamentos técnicos e financeiros”, disse Mekies, citando precedentes como a leniência demonstrada em relação a certas atualizações feitas pela McLaren em circuitos importantes. “Não se trata apenas de um motor; é uma prática que favorece certas equipes para ‘equilibrar’ o campeonato. A Red Bull foi submetida a inspeções extensivas, enquanto outras fazem alterações sem serem verificadas.” “Seus comentários ecoaram batalhas passadas: lembremos das multas multimilionárias impostas à Red Bull pelo incidente da ‘asa flexível’ em 2022, ou das acusações feitas por Zak Brown, CEO da McLaren, sobre o compartilhamento de dados entre a Red Bull e sua equipe satélite, a RB.”
Verstappen, sempre direto e franco, juntou-se ao coro de protestos. O piloto holandês, conhecido por seus desentendimentos com a FIA – da “regra Verstappen” sobre manobras de frenagem às penalidades por linguagem imprópria – não escondeu sua frustração com a mudança de motor. “Não concordo com isso”, declarou em uma entrevista pós-corrida. “A F1 deveria ser sobre talento e estratégia, não sobre apostas orçamentárias. Se você permite que uma equipe gaste mais sob o pretexto de ‘desempenho’, onde está a justiça?” Verstappen, que acumulou nove pontos de penalidade e enfrenta uma possível suspensão, vê essa controvérsia como uma tentativa velada de conter seu domínio. Seu pai, Jos Verstappen, ex-piloto e figura controversa, jogou lenha na fogueira nas redes sociais: “A McLaren e a FIA estão trapaceando para coroar Norris. Max não precisa de favores; ele precisa de regras justas.”

A reação da FIA foi imediata. Apenas 24 horas após o término do Grande Prêmio do Brasil, a entidade máxima do automobilismo divulgou um comunicado oficial que exacerbou as tensões. “A Federação examinará o caso da troca da unidade de potência da Red Bull na próxima reunião da Comissão de F1, marcada para esta sexta-feira”, dizia o comunicado. Mas o verdadeiro golpe estava na menção a “medidas imediatas para garantir a transparência”. Fontes internas revelaram que a FIA havia solicitado documentação detalhada sobre os custos do motor Honda e poderia impor uma auditoria retroativa em caso de irregularidades. Mohammed Ben Sulayem, presidente da FIA, foi mais explícito durante uma teleconferência com as equipes: “Não toleraremos acusações infundadas que prejudiquem a integridade do esporte. O regulamento é claro: modificações para melhorar o desempenho são levadas em consideração no teto salarial. A Red Bull terá que justificar um motivo válido ou enfrentará sanções.”
Essa reação imediata não só reforçou a autoridade da FIA, como também alimentou as tensões. Mekies a classificou como “desproporcional e seletiva”, enquanto Brown, da McLaren, a saudou: “Já era hora de a FIA agir com firmeza; estamos exigindo respostas há meses”. O paddock, um verdadeiro ninho de rumores, fervilha de especulações. Será uma luta pelo controle financeiro antes da revolução de 2026, com seus motores híbridos e chassis redesenhados? Ou será uma guerra pessoal entre a Red Bull – que possui duas equipes – e suas rivais, como McLaren e Mercedes, que veem o domínio de Verstappen como uma ameaça ao equilíbrio do esporte?

O impacto na classificação é inegável. A McLaren lidera a Red Bull por 16 pontos após a vitória de Norris no Brasil, mas Verstappen, graças ao seu pódio “milagroso”, reduziu a diferença no campeonato de pilotos. Se a FIA punir a Red Bull, as sanções podem alterar drasticamente o final da temporada: multas, dedução de pontos ou até mesmo ajustes orçamentários para 2026. Os fãs, divididos nas redes sociais – com hashtags como #JusticeForMax e #FairPlayF1 – aguardam os próximos acontecimentos. Enquanto isso, em Milton Keynes, os engenheiros da Red Bull trabalham incansavelmente no RB21, e em Woking, a Stella prepara seu contra-ataque.
Essa controvérsia vai além de meras considerações técnicas; ela nos lembra que a Fórmula 1 não se resume à velocidade, mas é um verdadeiro tabuleiro de xadrez onde as apostas financeiras são colossais e os golpes, fatais. Com três corridas restantes – Las Vegas, Catar e Abu Dhabi – o título está por um fio. Será que a FIA conseguirá destronar a Red Bull? Ou será que Verstappen, o eterno rebelde, imporá sua vontade mais uma vez? Uma coisa é certa: na Fórmula 1, as regras ocultas sempre vêm à tona, e os boxes nunca têm um minuto de descanso.
